O Médico e o Criado-mudo
Me lembro da primeira vez que escutei o termo “criado-mudo”, aquela mesinha de cabeceira do lado da cama, na minha inocência cheguei a conclusão que deveria ser algo ou alguém que te servisse sem reclamar, um pensamento inocente para a época e politicamente incorreto nos dias de hoje.
Por muito tempo, o médico teve sua figura imaginada e até desenhada ao lado da cama do paciente, mas essa figura foi se afastando da cama, foi para um consultório, depois para um hospital, depois para unidades fechadas superespecializadas chamadas UTI; o toque foi trocado por um monitor de sinais vitais, a conversa, por exames cada vez mais sofisticados, e saberá o que mais colocaremos entre o médico e o leito do paciente.
É preciso recuperar o médico de cabeceira, aquele que vai aonde o doente está, que liga para saber se o doente melhorou, que olha o paciente antes dos exames, aquele que não pode ser substituído pelo Google e nem pelo Yahoo, o médico que entende que a saúde da casa, da família, das finanças também afetam o quadro clínico do seu paciente. Toda casa deveria ter um médico de cabeceira, não um criado-mudo, mas alguém em quem se apoiar na hora que a saúde ficar frágil, um médico que os pacientes não tivessem medo de incomodar, mas tivessem a confiança de buscar sem receios.
Onde estará o médico de cabeceira? Será que a sociedade o obrigou a virar um criado mudo? Será que a proximidade e o envolvimento seriam tão antiprofissionais assim? Uma coisa é certa: o paciente não precisa encontrá-lo, mas ele precisa encontrar o paciente.
Dr. Breno – Diretor Médico da Saúde Residence